E então, num dia qualquer, você descobre que foi citada numa publicação da Routledge e seu eu-linguista sai pulando carnaval antes do tempo.
Os livros citados são “Borboletinha” e “Samba-lelê”, obras infantis que desenvolvi para leitores de até três anos com as ilustradoras Daniela Galanti e Brena Milito Polettini para a Carochinha Editora e entraram no PNBE 2014 – o Programa Nacional de Biblioteca na Escola do governo brasileiro.
Elas são ainda um resultado de minha pesquisa e atuação com o Português Língua de Herança, pois criar mecanismos e ferramentas que ajudem os pais e mães a transmitir a língua e a cultura brasileira aos pequenos foram questões motivadoras do projeto.
Cada livro registra uma cantiga infantil, manifestações de nosso patrimônio oral.
Mas a proposta do livro vai muito além: como criar uma narrativa visual que seja atrativa aos pequenos e dê conta dos significados dos versos que, com as transformações da oralidade, às vezes podem ser sem pé nem cabeça?
Neles, queremos falar de representatividade, diversidade e inclusão. Por isso, os personagens de Samba Lelê são negros (um grupo ainda subrepresentado nas obras infantis, apesar de ser maioria da população do Brasil), e a resposta de porque Samba Lelê estava com a cabeça quebrada aparece na narrativa visual. Ah, dizem ali que ele merecia uma boa palmada – como resolvemos isso? Com uma mãe amorosa que abraça e aconchega, em vez de castigar o filho por ter feito arte e se machucado.
Esses dois livros são parte de um projeto mais amplo, com outras obras, ainda inéditas. Por exemplo, em “Marcha Soldado”, também ilustrado pela Daniela Galanti, a narrativa visual mostra um pai cuidando do filho sozinho, fazendo jantar em casa. Porque isso existe e queremos que exista mais.
Assim, há pelo menos duas formas de lê-los: uma, cantando, outra, observando e narrando as ilustrações – estimulando as crianças a falar, a recontar e a desenvolver a capacidade de narrar episódios com começo, meio e fim (necessária para etapas futuras de sua relação com o texto e a linguagem).
Como se não fosse alegria suficiente, essa menção aos livros aparece no capítulo “Early childhood literature in Brazil and Mexico”, das pesquisadoras Alma Carrasco e Mônica Correia Baptista – colocando-me ao lado de meu México querido, onde pude contar histórias pra bebês com a Xóchtl Ortiz Molina em agosto passado.
Então, em momentos assim, eu acho que as coisas fazem sentido e fico feliz.
Os dois livros podem ser comprados pela Amazon em edição da Brasil em Mente.